As Armas e o Povo – Sessão ao Ar Livre na Escola Básica e Secundária de Anadia – Semana das Artes

Abril, 2023

27ABR21:00As Armas e o Povo - Sessão ao Ar Livre na Escola Básica e Secundária de Anadia - Semana das Artes

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Detalhes do Evento

As Armas e o Povo (produção Sindicato dos Trabalhadores da Produção de Cinema e Televisão, 1975, 81’´, PT, M12)27 de Abril, quinta-feira, 21h00 -Sessão Ar Livre, Escola Básica e Secundária de Anadia / Agrupamento de Escolas de Anadia.

Sinopse: No dia 1 de Maio de 1974, uma semana após a revolução de 25 de Abril, dez equipas de cinema vieram para a rua com o intuito de cobrir a enorme manifestação que nesse dia teve lugar (tratava-se do primeiro 1 de Maio comemorado em liberdade desde há muito), e que funcionou também como confirmação, se tal era ainda preciso, do sucesso do golpe que derrubara 48 anos de ditadura. A iniciativa do filme partiu do Sindicato Nacional de Profissionais de Cinema, que solicitara (ou exigira) ao IPC a criação de possibilidades que permitissem a essas tais dez equipas fazer um trabalho cuja importância histórica se afigurava inegável. Uma olhadela pela ficha técnica mostra imediatamente o poder mobilizador que a ideia exerceu, podendo dizer-se que a referida ficha constitui (quase…) um “who’s who” do cinema português desses anos. 
A todos esses nomes portugueses juntou-se ainda o de Glauber Rocha, como que atestando o impacto e o interesse alcançados pela revolução portuguesa a nível internacional. As Armas e o Povo foi o filme que resultou dessa conjunção de esforços. Naturalmente, num filme com estas características, a montagem adquire um papel fundamental, uma vez que à diversidade das imagens recolhidas é preciso impor uma estrutura organizativa unificadora, tarefa ainda mais importante quando se trata de um filme rodado sem qualquer espécie de guião. Digamos, portanto, que As Armas e o Povo não estava ainda decidido nem determinado no momento em que as câmaras pararam. Com o material filmado, as hipóteses de estruturação eram mais que muitas, e com ele diversos As Armas e o Povo poderiam ser concebidos.  Optou-se então por conjugar o material recolhido nesse 1° de Maio com outras imagens referentes aos acontecimentos do dia 25 de Abril anterior, utilizadas também como suporte de uma voz “off” que assegura a narração e a “explicação” da situação que se vivia antes do golpe de estado e dos novos rumos que agora se abriam. Podemos então reconhecer três elementos fundamentais na estrutura de As Armas e o Povo: uma “retrospectiva” dos acontecimentos de 25 de Abril, o registo da manifestação do 1° de Maio, e as entrevistas feitas por Glauber Rocha durante essa manifestação. É da articulação entre estas três “fontes” que, finalmente, nasce o filme. No entanto, não será completamente errado sugerir um quarto elemento, de importância igual ou mesmo superior, visto que “engole” os outros elementos. Trata-se da voz “off”, cujo comentário é sempre gerador de um sentido que não se limita a sublinhar e a “explicar” as imagens que vemos e que, para além disso, impõe uma interpretação que limita (dir-se-ia que “controla”) o poder das imagens e que lhes define o discurso. 
O maniqueismo do tom desse comentário (As Armas e o Povo não pode, a essa luz, deixar de ser visto como uma obra de propaganda, mais ou menos assumida) representa assim um dos principais entraves ao alcance “documental” do filme. O facto de o filme enveredar por uma espécie de “didactismo ideológico” preso ao momento que se atravessava acaba no entanto por ser, paradoxalmente, um dos maiores pontos de interesse quando se vê, hoje, o filme. No fundo, algo de semelhante se passa com a generalidade dos filmes de propaganda. Quando vemos hoje um filme como A Revolução de Maio, por exemplo, não pensamos nele enquanto “documento de uma época” mas enquanto “visão oficial” de um determinado tempo, com um valor documental, sobretudo no plano ideológico, derivado desse preciso facto. Ou seja, se no filme de António Lopes Ribeiro não víamos Portugal tal como era, víamos Portugal tal como o regime queria que ele fosse visto. Se bem que diametralmente oposto, quer a nível ideológico quer a nível formal, As Armas e o Povo é um filme que pertence a essa mesma categoria, e por onde passam, de forma imediata, as ideias de uma época. E é por estar tão fortemente agarrado à sua época, por estar tão “datado”, que As Armas e o Povo é hoje, com todas as limitações já apontadas, um filme extremamente interessante. Até porque, no contexto festivo em que o vamos ver, fica bem recordar o tom e o estilo dos tempos de euforia revolucionária.
Texto: Luís Miguel Oliveira
Realização: Trabalhadores da Actividade Cinematográfica / Colaboração: Acácio de Almeida, José de Sá Caetano, José Fonseca e Costa, Eduardo Geada, António Escudeiro, Fernando Lopes, António de Macedo, João Moedas Miguel, Glauber Rocha, Elso Roque, Alberto Seixas Santos, Artur Semedo, Fernando Matos Silva, João Matos Silva, Manuel Costa e Silva, LUÍS Galvão Teles, António da Cunha Telles, António-Pedro Vasconcelos / Laboratório: Tobis Portuguesa / Laboratório de Som; Valentim de Carvalho. Produção: Trabalhadores da Actividade Cinematográfica / Distribuição: Instituto Português de Cinema (IPC).
Esta exibição será efectuada no âmbito do Projeto Cultural de Escola – Plano Nacional das Artes/ Plano Nacional de Cinema, em que o CineClub Bairrada / Club de Ancas desenvolve juntamente com o Agrupamento de Escolas de Anadia/ @AAPB – Associação dos Artistas Plásticos da Bairrada 

Horas

(Quinta-Feira) 21:00

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